Paulina Chiziane discute a literatura e Moçambique

Paulina Chiziane discute a literatura e Moçambique - 01/07/2025 - Guia Negro

O Poder da Identidade Cultural: Uma Conversa com Paulina Chiziane

No dia 17 de junho de 2025, às 9h, cheguei ao bairro de Albazine, em Maputo, ansioso por uma entrevista com a renomada escritora Paulina Chiziane. Acompanhado pela escritora Manoela Ramos, chamamos pelo seu nome até que uma pessoa da casa nos informou que Paulina ainda estava dormindo. Após alguns minutos, a ganhadora do Prêmio Camões 2021 apareceu, usando a mesma bata da foto que estampei em uma camiseta em sua homenagem.

A Identidade Cultural e Suas Complexidades

A primeira pergunta que Paulina me fez foi sobre o Brasil. Em meio a cigarros, café e aquecimento dos pés com carvão, começamos a conversar sobre literatura, cultura e as questões sociais que afetam Moçambique, especialmente em um ano especial: os 50 anos de independência do país.

Como está o nosso Brasil?“, ressoou a voz de Paulina, trazendo à tona a conexão entre nações.

A Falta de Livros e o Descanso Necessário

Durante a conversa, mencionei que em uma livraria alguns dias atrás, fui informado de que seus livros não estavam disponíveis porque ela havia desistido de fazer edições. “Estou num descanso”, explicou. “Ainda pretendo retomar, mas ando envolvida em outras atividades e um pouco cansada.”

A Perda da Identidade Cultural

Um tema recorrente em Moçambique é a perda da identidade cultural, algo que atinge etnias como os changana, que muitas vezes não falam sua língua de origem. Paulina destacou a importância da língua como um repositório de valores culturais. “A identidade é uma construção diária”, afirmou. “É urgente resgatar e preservar nossas línguas nacionais.”

O Impacto do Colonialismo

Ao falar sobre as marcas deixadas pelo colonialismo, Paulina refletiu sobre a construção de uma nova identidade nacional após a independência. Ela observou que a nova geração, que não vivenciou a violência colonial, muitas vezes desconsidera os avanços conquistados ao longo dos anos. “É uma ingratidão a falta de reconhecimento pelo esforço de nossos ancestrais”, disse.

Democracia e Seus Desafios

Discutindo o conceito de democracia, Paulina expressou seu ceticismo. “A realidade é que muitas vezes se mata em nome da democracia”, observou, ressaltando a necessidade de um diálogo mais amplo sobre humanidade e valores essenciais.

Celebrando a Mulher Africana

Um dos pontos altos da entrevista foi a menção às rainhas africanas, como Quimpavita e Achivangila. Paulina enalteceu o papel das mulheres africanas, que têm sido fundamentais na resistência e na história do continente, ressaltando que a luta por reconhecimento é contínua.

O Futuro da África

Quando questionei se um dia o continente africano conseguiria se apoderar de sua grandeza, Paulina respondeu que a luta pela libertação é gradual e que, embora demore, é uma batalha em andamento. “Quando fui a uma conferência no Brasil, declarei que Deus é mulher e negra. Essa afirmação escandalizou muitos, mas até mesmo a concepção de Deus está enraizada em preconceitos raciais”, destacou.

Uma Homenagem na Literatura

No Festival de Poesia de Lisboa, onde Paulina seria homenageada, ela refletiu sobre sua trajetória e a importância da perseverança. “As homenagens são bem-vindas, mas é o trabalho árduo que traz as recompensas”, enfatizou.

Uma Mensagem para os Leitores Brasileiros

Para encerrar, Paulina deixou uma mensagem enigmática para seus fãs brasileiros: “Um dia, vocês terão uma surpresa. Não sei quando!”

Conclusão

A entrevista com Paulina Chiziane foi uma experiência enriquecedora e reveladora. Suas reflexões sobre identidade cultural, a história de Moçambique e o papel da mulher africana nos inspiram a reavaliar nosso próprio entendimento de diversidade e resistência.

Fonte: https://redir.folha.com.br/redir/online/turismo/rss091/*https://www1.folha.uol.com.br/blogs/guia-negro/2025/07/no-quintal-de-paulina-chiziane-falamos-sobre-livros-e-mocambique.shtml

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