Um Acordo Silencioso Entre os Poderes

Um Acordo Silencioso Entre os Poderes - 30/06/2025 - Dora Kramer

O Intricado Jogo de Poder entre os Três Poderes no Brasil

No cenário político brasileiro, as interações entre os três Poderes — Executivo, Legislativo e Judiciário — têm se caracterizado por uma série de atitudes passivo-agressivas. Essa dinâmica se revela através das decisões controversas, como os cortes de gastos do Executivo, os super salários do Judiciário e o aumento de cadeiras no Legislativo. O que esses movimentos parecem deixar claro é um pacto não escrito: a proteção mútua dos interesses corporativos e ideológicos de cada Poder.

A Dança das Despesas e Privilégios

O Parlamento costuma elevar suas despesas, enquanto o Executivo propõe mudanças que nunca se concretizam em relação ao fim dos privilégios judiciais. O Supremo Tribunal Federal, por sua vez, parece alheio a essa realidade, evocando, sempre que conveniente, o princípio da não interferência. Essa troca de farpas políticas e a falta de ação efetiva resulta em um ciclo de descaso que afeta diretamente a transparência e a responsabilidade no uso dos nossos recursos públicos.

O Fracasso dos Acordos

Um ponto de inflexão pode ser observado na reunião de agosto de 2024, onde representantes dos três Poderes tentaram um entendimento para regularizar o uso das emendas. Contudo, esse acordo se desfez rapidamente, assim como o que ocorreu em junho de 2025, quando foi celebrado um “acordo histórico” para encaminhar o aumento do IOF. A falta de progresso em ambas as frentes levanta a questão da eficácia e integridade dessas negociações, que muitas vezes parecem mais um espetáculo de teatro do que uma busca genuína por soluções.

Na derrubada do decreto sobre operações financeiras, o ministro da Fazenda expressou descontentamento, comentando a mudança de postura de figuras como Hugo Motta e Davi Alcolumbre, que passaram a formar uma oposição ao Planalto. A razão por trás dessas reviravoltas é simples: houve precipitação e uma dose de soberba que ignorou a necessidade de consenso entre os parlamentares.

O Poder da Aprovação Coletiva

A atual situação demonstra que figuras como Fernando Haddad e o presidente Lula já deveriam ter amadurecido o suficiente para entender que nenhum acordo é viável sem o endosse dos deputados e senadores. Estes últimos, que quase unanimemente sustentam os líderes em seus cargos, têm um peso significativo na balança do poder. Com uma base de quase 400 a 100, é evidente que a luta pela governabilidade passa por um reconhecimento das dinâmicas institucionais em jogo.

Conclusão

O cenário político brasileiro reflete uma complexidade que vai além das aparências. A interação entre os Poderes revela um jogo delicado de interesses que, se não for cuidado, pode comprometer a governança e a transparência tão necessárias para o funcionamento saudável da democracia. Para que haja progresso, será crucial que os líderes reconheçam e respeitem a importância do consenso e da colaboração entre os diferentes ramos do governo.


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Fonte: https://redir.folha.com.br/redir/online/poder/rss091/*https://www1.folha.uol.com.br/colunas/dora-kramer/2025/06/pacto-nao-escrito-entre-poderes.shtml

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